sábado, 16 de março de 2013

VERANEIO E GUERRA NA BOA VIAGEM






 

- Minha filha, sua irmã foi passear na praia e está demorando muito. Será que não foi comida pelo tubarão?

- Leninha não estava de roupa de banho, mamãe. Só passeando na areia com o capitão americano.

- Que desgraça, Cecília. Esses americanos não são da nossa educação. Repare que nossa família Gonçalves de Magalhães já completou quatrocentos anos de rididez pia.

- É a guerra, mamãe.

- Essa guerra veio pra acabar o mundo, minha filha. E se esse americano, nas areias da Boa Viagem, resolver deitar em cima de Leninha?

- Se for só isso, não vai ter problema.

- Eu acho que ela vai fugir com esse americano. O que é que eu digo a seu pai?

- Mamãe, se ela fugisse é porque queria. Já tem vinte e um anos.

- É como já dizia sua avó: aos quinze anos se sobe ao altar. Aos dezoito, está emperrando. Passou vinte e um, é o último tiro da macaca. Torna-se vitalina inveterada. Ela pode não querer esperar mais.

- Os tempos mudaram, mamãe. E a guerra vai mudar ainda mais. Eu, por exemplo, não quero casar antes de me formar em médica.

- Se você fizer isso, seu pai lhe prende lá nas freiras de Palmares.

- Mamãe, as americanas estão arranjando emprego, sabia?

- É essa maldita guerra, que não acaba.

- Mamãe, ouvi agora no rádio. A guerra acaba de terminar.

- A guerra terminou e sua irmã não volta.

- Olhe ali. Papai está chegando. O que é que a gente diz?

- Tonico! Aconteceu uma tragédia. Leninha foi devorada pelo tubarão.




Um comentário:

rodrigo disse...

Quantos "tubarões" já assombravam em Boa Viagem!