
-Amara, me faça as malas. Vamos a Samarcanda.
-Aonde, dona Laetitia? – perguntou a empregada de confiança travestida de dama de companhia.
-Esse negócio do sonho acabou
não era uma coisa dos hippies?
-Me chamou de velha e isso
vai ter volta depois. Vamos pra Samarcanda. Quem sabe encontro uma turminha das
pesquisas da arqueologia, me dê bem e copule com os intelectuais de lá?
-E a senhora agora quer
intelectual?
-Minha filha, é a nata que
resta. Porque agora quem tem dinheiro perdeu a graça. O príncipe Tomazzo de
Lampeduza estava errado na sua profecia: “é preciso que tudo mude pra que tudo
permaneça o mesmo”. Eu corrijo “pra que tudo permaneça pior”. Veja: as classes
médias altas, médias baixas, médias médias e riquíssimas negociaram entre si em
conluio, e estão no mesmo nível. Aqui no Rio de Janeiro já se ouve músicas
horríveis. Nenhum Schumann, nenhum Alban Berg. Uma gente de difícil acesso. Não
procuro mais homem rico porque homem rico tá uma merda. Pobre, não vou nem
falar, né, porque o pobre é igual ao rico; só que sem dinheiro. Vamos a Samarcanda.
-Nem sei onde é isso.
-Vá a internet e sonde uma
idéia superficial. Depois te conto sua história e grandes narrativas.
-dona Laetitia, o porteiro
acabou de tocar a campanhia. Ele avisou que vai entrar de férias e vai pra Samarcanda.
-O que? Você me repita isso
devagar.
-Ele disse que vai pra Sa-mar-can-da.
-E quem é ele pra saber o que
é Samarcanda?
-Ele disse que está entediado
de ir a Nova Iorque e Paris e encontrar os colegas dele.
*Dona Laetitia a ensinou que
“sinhá” é um carinho que ela gosta de ouvir.
3 comentários:
Dona Laetitia merece mais crônicas!
Nelson, você é um excelente dialoguista. Além de esbanjar uma vasta cultura humanística. Parabéns e vivas a Samarcanda.
Saudações
Rodrigo Garcia
sensacional Laetitia. realmente como disse Anônimo merce um prossegue. beijos
Rita
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